Existe a filosofia em si, a filosofia livre, assim como existem filosofias diversas, segundo as escolas e as teorias pessoais. O que se pode chamar de filosofia livre é justamente a indagação natural, a reflexão profunda acerca das causas primárias, sem subordinação a qualquer esquema rígido. É a filosofia entendida no sentido realmente substantivo, porque não comporta adjetivações condicionantes. Quando se diz, por exemplo, filosofia tomista, filosofia espiritualista ou filosofia positivista, etc., etc., implicitamente se restringe a idéia a determinados ângulos. O tomismo, portanto, é UMA filosofia, tanto quanto o Espiritualismo, o Positivismo, e assim por diante. [...] São muito diferentes as filosofias, cada qual com o seu campo de pensamento. Independentemente da existência de tantas filosofias [...] devemos considerar a filosofia no seu conceito amplo, a filosofia perene, como diziam os antigos, acima das classificações acadêmicas. É a filosofia com visão global do Universo, preocupada com a razão última das coisas, como necessidade do espírito inquiridor, o espírito que tem sede de saber mais. Sob este ponto de vista [...] o homem começou a filosofar desde o momento em que se impressionou com o desconhecido. [...] [...] Ao reencarnar, como prega o Espiritismo, já traz o Espírito a sua armação, a sua estrutura psíquica para determinado tipo de conhecimento em razão do lastro adquirido anteriormente. Justamente por isso, às vezes encontramos no seio da massa humana elementos que não têm ilustração acadêmica, mas têm profundos raciocínios filosóficos. São espíritos bem vividos, já afeitos aos processos de especulação e crítica. Em cada encarnação estas criaturas enriquecem o patrimônio de experiências e aprendizado. Os conceitos filosóficos aprendem-se nos livros, a metodologia naturalmente se exercita no estudo sistemático. Mas a filosofia em si está no espírito: é a elaboração do conhecimento superior, através de mecanismos que permitem à criatura chegar à compreensão da vida e das coisas pela luz da razão bem trabalhada ou pela alta intuição.
Referência:
AMORIM, Deolindo. Análises espíritas. Compilação de Celso Martins. 3a ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. - cap. 26