Prefiro a palavra sensitivo, dado que a faculdade de alcançar os estados profundos da hipnose me parece uma sensibilidade do tipo mediúnico, que a palavra francesa sujet, usualmente empregada, está longe de caracterizar com propriedade. As narrativas produzidas em estado de transe hipnótico ou magnético são, a meu ver, devidas a um fenômeno anímico, ou seja, uma comunicação ou relato do próprio espírito (encarnado) da pessoa em transe que, em vista do desdobramento, tem acesso à memória integral. Enquanto isso, a palavra sujet, ou a sua tradução literal sujeito, como muitos adotam, traz na sua estrutura semântica (posto debaixo) conotação incompatível com o que se observa no desenrolar da experiência de regressão de memória, na qual, ao contrário de estar cativo, sujeito, obrigado, constrangido (ver Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira), o sensitivo apresenta-se lúcido, seguro da sua vontade e consciente do que lhe convém ou não dizer e fazer. A opção pelo termo sensitivo é também apoiada pela conveniência de distinguir, mas não dissociar, esse tipo de faculdade ou fenômeno da sensibilidade mediúnica habitual que diz respeito à comunicação originada por espíritos desencarnados. Em suma, o sensitivo sob hipnose profunda é o médium de seu próprio espírito.
Referência:
MIRANDA, Hermínio C. Nas fronteiras do Além. 3a ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. - cap. 8