Em toda parte os párias andam a sós. São os miseráveis que o mundo venceu e tomou-lhes as oportunidades de sobrevivência. Reúnem-se em maltas de criminosos e farândolas de tristes; assomam com esgares de feras e, truculentos, fazem-se agressivos, no país do esquecimento onde estabelecem morada. São os que tiveram negado o direito de viver, conquanto sejam os frutos amargos da árvore da sociedade malsã [...] esses são os párias econômicos, os abandonados sociais. Os outros, os párias de luxo, esses brilham na ilusão e se refestelam no conforto em que amolentam o caráter, já debilitado, e esfrangalham as esperanças frouxas dos outros párias, tomando-lhes, ou, para ser exato, roubando-lhes os direitos humanos que também deveriam ter, mas não têm. Aqueles, os párias por falta de dinheiro e família, são chamados chagas sociais, mas os outros, os que fulguram em manchetes de jornais, não têm epíteto, porque não há substitutivo para a expressão câncer moral. Onde estes últimos estão, são eles que têm a miséria e fomentam-na, proclamam acusações contra a impiedade e são os responsáveis pela criminalidade de vário porte, enjaulando nas próprias garras a justiça que os não alcança nos crimes violentos que praticam com as mãos enluvadas; são os que se utilizam das leis em falência para cercear a liberdade daqueles que já são prisioneiros de si mesmos, nas paredes sujas da infelicidade, e trancafiá-la nos cárceres onde colocam guardas armados, fazendo que os carcereiros, que os espionam e sobrecarregam de injúrias, não passem, afinal, de prisioneiros que tomam conta de outros prisioneiros. [...] Há, porém, os párias em redenção. Sofrem e choram, embrulhados no man to da dor e da soledade, expurgando-se, para galgar a montanha da sublimação, após a demorada marcha pelo charco das paixões em superação. Párias pela ausência de luz, que somos quase todos!
Referência:
FRANCO, Divaldo P. Párias em redenção. Pelo Espírito Victor Hugo. 7a ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. - L. 3, cap. 2
Ver também
FAVELADO