Aderir ao Movimento Espírita não significa aderir à Doutrina em todos os casos. As situações variam muito, de pessoa para pessoa, de acordo com a formação, as disposições, as opções de cada um. As relações com o Movimento Espírita se distinguem através de processos diferentes. Vivemos em interação, que é o processo social mais comum, isto é, convivemos no meio espírita, fazemos boas relações, porém o fato de nos relacionarmos não quer dizer que sempre já estejamos integrados. Há pessoas que se acomodam, mas não aderem ao movimento propriamente. Há entre nós muitos casos de acomodação, sem a mínima identificação com a Doutrina. Acomodação é uma forma habilidosa de conviver ou ajustar-se temporariamente a qualquer ambiente, embora sem aceitar as idéias do grupo. É o caso dos elementos que, por necessidade ou por certas conveniências, se acomodam entre nós, fazem que concordam com as nossas idéias, dão a impressão de que estão aceitando tudo, mas a verdade é que, no fundo, não aceitam nada do que dizemos. Estão em nosso meio enquanto precisam resolver determinado problema. Acomodação, portanto, não é integração. Outro processo, igualmente corrente em todos os movimentos, é a adaptação. Há pessoas que têm uma capacidade especial de adaptação. Adaptam-se a qualquer ambiente, qualquer estilo de convivência. É uma arte, afinal de contas. Pois bem, no meio espírita às vezes podem ocorrer casos de pura adaptação aos nossos hábitos e padrões, sem a verdadeira integração. Pessoas que se sentem bem no meio espírita, apreciam nossos modos de conviver, colaboram conosco, aceitam tarefas, fazem amizades, mas ainda não se sentem seguras intimamente. Estão apenas adaptadas ao ambiente espírita mas não se integram ao espírito da Doutrina. O processo mais positivo é justamente o da integração, que só se dá quando a criatura humana, pelo estudo, pela observação, pela reflexão demorada, chega à conclusão de que as suas idéias e os seus valores de outrora já não lhe servem mais, pois agora já tem outra visão da vida e das coisas. Quando se sente, afinal, apoiada nos princípios espíritas, quando aceita conscientemente esses princípios, quando já está em condições de dispensar naturalmente a bagagem das crenças antigas, aí sim, está integrada no Espiritismo. É pela integração na Doutrina que nos preparamos, em suma, para compreender as mudanças e assumir posições de equilíbrio.
Referência:
AMORIM, Deolindo. Análises espíritas. Compilação de Celso Martins. 3a ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. - cap. 36